• Rui Eduardo Paes // Jazz.pt (7 juin 2019)
Pouca justiça a história do jazz tem feito a Horace Tapscott, pianista, compositor (regra geral para a sua Pan Afrikan People’s Arkestra, que neste registo ao vivo ouvimos um ano antes da sua morte em 1999, com o acrescento do coro Great Voice of Ugmaa) e activista (foi o mentor da Union of God’s Musicians and Artists Ascension). Tal lapso parece estar agora a ser corrigido, e este disco lançado pela francesa Dark Tree Records é um contributo para esse tão esperado desfecho: neste tempo de reemergência de um jazz político e interventivo, muito devido ao racismo institucionalizado da América de Trump, verificamos também que está a ser revalorizada a dimensão espiritual que o género teve nas décadas de 1960 e 70. O pan-africanismo de Tapscott era as duas coisas em simultâneo: um grito emancipatório da comunidade afro-americana de Los Angeles e um hino devocional com raízes nas culturas ancestrais do Continente-Mãe, num ecumenismo feito de elementos cristãos, muçulmanos e pagãos.
Nesta que foi uma das derradeiras manifestações públicas de Tapscott, realizada no Los Angeles County Museum of Art, encontramos um free jazz enformado pelo pós-bop, o gospel e a soul, bem diferente – mas equiparável – daquele que era praticado pela outra Arkestra, a de Sun Ra. O tema-título e os que o acompanham, incluindo uma versão de “Caravan” (peça de Juan Tizol para Duke Ellington), oferecem-nos uma música de carácter celebratório e de chamamento à união. E se nos surge com menos factores ritualísticos do que o jazz do embaixador de Saturno na Terra, muita clara na audição deste álbum fica a sua natureza de “happening” social. Eis, pois, uma música que é mais do que música, aquilo precisamente que o jazz foi nos primórdios e está, aos poucos e poucos, a voltar a ser. Tapscott pergunta por que é que não estamos a ouvir e tudo indica que uma resposta está, finalmente, a formar-se. Ouvimos as “old souls” e ouvimo-lo a ele…
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